sábado, 10 de novembro de 2007

Borboleta


Quando eu era menina, tentei, certa vez, criar uma borboleta. Capturei-a no jardim da vizinha. A pobrezinha ficou tão assustada que não se moveu. Eu, em minha ingenuidade, coloquei o dedo sobre o corpinho do pequeno inseto na esperança de sentir seu coração bater.
Coloquei-a em um vidro de maionese, fiz alguns furos na tampa para entrar ar e joguei algumas folhinhas de árvore para ela comer. Não sei quem disse que borboleta come folhas de árvore, mas eu achava que sim.
Entrei em casa com o vidro nas mãos e mostrei para a mamãe. Ela me olhou com um sorriso e balançou a cabeça num gesto que só mais tarde vim a saber o que significava.
Passei o resto do dia observando minha mais nova amiginha. Não conseguia me separar dela. Me sentia tão feliz e pensava que ela também sentia. Na hora de dormir foi um sacrifício, mamãe teve que me das umas palmadas para eu ir para a cama.
No dia seguinte levantei e fui olhar minha borboletinha. Cheguei perto do vidro e ela estava estática, com as perninhas dobradas e duras. Tentei fazê-la voltar à vida, mas foi inútil. Chorei o resto do dia e fiz um enterro para a pobrezinha. Coloquei-a numa caixa de fósforo, a cobri com flores e enterrei no jardim da minha casa.
Uma semana depois, quando o fato já estava completamente esquecido, um besouro pousou na minha mão.

PS: Encontrei esse texto no meio de uns papeis antigos. Ele foi escrito em 21 de dezembro de 1989